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Ausência de destino
Ausência de destino
Imre Kertész
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No aniversário de 80 anos da liberação de Auschwitz, a editora publica obra-prima de escritor húngaro prêmio Nobel sobre sua experiência no campo nazista Lançado originalmente em 1975, Ausência de destino é um dos grandes clássicos da literatura de testemunho do Holocausto. Escrito pelo húngaro Imre Kertész, o romance é baseado na experiência do autor, que foi ele mesmo sobrevivente de campos de extermínio nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. A obra, que rendeu o Prêmio Nobel de Literatura a Kertész em 2002, estava fora de catálogo no Brasil e recebeu nova edição com tradução e posfácio de Paulo Schiller, diretamente do húngaro. O livro acompanha a história de György Köves, um adolescente húngaro de 14 anos que é retirado de um ônibus nos arredores de Budapeste e enviado, junto a outros sessenta meninos, para um trem com destino a Auschwitz. Judeu não religioso e sem a compreensão exata do que estava acontecendo, ele consegue entender, em meio à Babel de línguas e sotaques dos prisioneiros, que deve mentir sua idade. Dessa forma, ao chegar ao campo na Polônia ele escapa do envio imediato à câmara de gás, para onde iam as crianças de até 16 anos, e é designado para trabalhos forçados. Com uma narrativa implacavelmente objetiva, Kertész constrói uma espécie de romance de formação no qual vão sendo desveladas ao leitor, a partir do olhar do adolescente, a brutalidade cotidiana e a complexa luta pela sobrevivência nos campos. A força de Ausência de destino vai, no entanto, muito além do relato pessoal. A hábil construção de Kertész retrata a experiência indizível de sofrimento de um ponto de vista singular: o de um jovem que não se vê como vítima, que busca compreender a realidade à sua volta sem o filtro do heroísmo ou do martírio. Essa perspectiva traz um impacto avassalador, revelando não apenas a violência, mas também a forma como a mente humana tenta se adaptar ao inadaptável. "O romance utiliza o dispositivo alienante de tomar a realidade do campo como um dado adquirido, uma existência quotidiana como qualquer outra", afirmou o comitê sueco do Nobel ao atribuir-lhe o prêmio de literatura em 2002. O próprio escritor declarou em uma entrevista: "Estar muito próximo da morte também é uma forma de felicidade. Apenas sobreviver se torna a maior liberdade de todas". A discussão trazida por esse que é o principal livro de Kertesz chega aos 50 anos com uma assustadora atualidade. "Sempre que se refere a Auschwitz, Kertész diz que não pensa no passado, mas sim no futuro, um futuro sobre o qual a sombra do passado se projeta, ameaçadora", considera, no posfácio da edição da CARAMBAIA, o tradutor, escritor e psicanalista Paulo Schiller. "É possível que neste início de século XXI, o futuro a que Kertész se refere ao falar de Auschwitz esteja se anunciando. A violência e a paixão pela mentira, dois traços fundamentais dos regimes fascistas, parecem renascer e se infiltrar em inúmeras sociedades. O fascismo sempre elege um inimigo externo poderoso, fundamentando-se na promoção da discriminação e de um nacionalismo exacerbado, cujo resultado, como diz Kertész, é, inevitavelmente, o genocídio." IMRE KERTÉSZ nasceu em Budapeste, em 1929, filho de comerciantes judeus não religiosos. Já perto do fim da Segunda Guerra Mundial, Kertész foi deportado, aos 14 anos, para um campo de concentração nazista. Uma pequena inverdade contada por ele no momento da prisão – a de que tinha 16 anos – salvou sua vida, pois os mais jovens morreram em câmaras de gás por não serem considerados úteis para o trabalho forçado. Libertado em 1945, voltou à sua cidade natal e, depois de ser notificado de que ninguém de sua família havia sobrevivido, teve de enfrentar o terror da ditadura stalinista. Tornou-se jornalista, tradutor e escritor e viveu boa parte de sua vida profissional na Alemanha. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2002, sua obra está marcada pelas memórias do Holocausto, pela solidão e pelo tema do deslocamento e do desterro. Adaptado para o cinema em 2005 pelas mãos do diretor húngaro Lajos Koltai (com roteiro do próprio Kertész), Ausência de destino (1975) é seu livro mais aclamado. Fiasco, Kaddish para um filho não nascido, Liquidação ou seus diários e A última pousada são os volumes que compõem a sua obra. Imre Kertész morreu em Budapeste, em 2016, aos 86 anos, vítima do mal de Parkinson.
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