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Refrações das palavras freinetianas: crônicas para professores

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Refrações das palavras freinetianas: Crônicas para professores é o terceiro livro publicado em uma trilogia que pretendeu elevar o estatuto do educador Célestin Freinet para o de um autor imprescindível para o pensamento pedagógico contemporâneo. Para nós, coletivos de professores que produziram esses capítulos, Freinet não é apenas o professor que criou técnicas pedagógicas como a aula passeio, a imprensa na escola, o texto livre e tantas outras. É sobretudo um pensador, um autodidata, que leu vorazmente tudo o que estava ao seu alcance em sua época, e, com suas ideias, fincou as bases de suas práticas pedagógicas. Segundo Jacques Bens, que o conheceu em vida: Simplesmente, Freinet não costumava tomar ao pé da letra o que encontrava nos livros: gostava de pô-lo à prova na vida cotidiana. Assim, procedendo, aliás, adotava um comportamento absolutamente clássico, pois é duvidando das conclusões de seus predecessores que cada inovador faz avançar a ciência. (Freinet, 1998, p. VII). Contrariando a atitude de um professor obediente às produções acadêmicas, ele superou autores e conceitos para construir uma proposta única que podemos nomear Pedagogia Freinet. Trabalhou incansavelmente para construir uma profunda visão crítica em relação à escola burguesa, alimentou-se com entusiasmo dos ideais da pedagogia socialista e participou das discussões conduzidas pelos movimentos escolanovistas, comunistas, anarquistas e sindicais que preconizavam uma escola emancipadora. Antes de tudo, foi um homem engajado. Não estava alheio às discussões progressistas de sua época. Segundo González Monteagudo (2013, p. 14), o modelo pedagógico criado por Freinet recria a educação em uma perspectiva sociopolítica: Freinet concorda com os grandes postulados do ativismo pedagógico das primeiras décadas do século 20. Porém, o que há de específico em Freinet, em relação a outros precursores da Escola Nova, é a perspectiva sociopolítica e ideológica marxista com a qual analisa a evolução da sociedade, da cultura e da educação da primeira metade do século XX, dentro de uma crítica global ao capitalismo. Frente ao conservadorismo, ao pretenso neutralismo apolítico e ao utopismo progressista, Freinet se situa na esquerda sindical e política. Nessa perspectiva, o discurso e a prática de Freinet se conectam com as preocupações cidadãs e públicas do socialismo e do laicismo. A luta pela inclusão social e contra as desigualdades deve ser trabalhada também do ponto de vista pedagógico, para promover a educação popular e fazer da escola um instrumento ao serviço da cidadania crítica e participativa. (Tradução livre da autora). Com esse engajamento nas questões sociais e políticas, ele não foi apenas uma luz para seus alunos, mas também para professores que aderiram à Cooperativa do Ensino Laico por ele fundada. Incentivou todos a publicarem o que faziam, o que pensavam. Deu o exemplo. Além de artigos em revistas, produziu livros importantes que nos ajudam a entender o contexto teórico de sua obra. Não existe prática sem teoria, nem teoria sem prática para um marxista. Portanto, Freinet escreveu sobre a práxis que realizava juntamente com um coletivo de professores. Em Refrações das palavras freinetianas: Crônicas para professores, sua voz se espalha mais atualizada que nunca; é o professor contemporâneo que dialoga diretamente com o professor que já se foi. Foram escolhidas dezenove crônicas escritas por Freinet e publicadas no livro Pedagogia do Bom Senso. Cada um dos autores, à luz das palavras freinetianas, traz reflexões sobre as condições do ensino e das escolas brasileiras para dar a ver a tantos outros professores, que porventura lerão esse material, como as palavras de Freinet refratam-se nos dias atuais. Originalmente, o livro publicado na França foi intitulado Les Dits de Mathieu: une pédagogie moderne de bon sens (Os ditos de Mateus: uma pedagogia moderna de bom senso). No Brasil o título foi encurtado: Pedagogia do Bom Senso. É relevante dizer que este livro, escolhido para ser homenageado nesta publicação, foi gerado aos poucos. Tudo começou no tempo que passou em exílio. Impedido de estar na prática pedagógica, entre 1941 e 1943, por viver enclausurado nos campos de concentração e em Vallouise, usou o afastamento social para registrar as bases de sua pedagogia. Escreveu o livro Educação do Trabalho, um diálogo filosófico entre um casal de professores, senhor e senhora Long, e um camponês, Mathieu. O personagem rural, com muita sensatez e bom senso, vai ao longo do diálogo amadurecendo as reflexões de como a escola poderia produzir uma sociedade mais tranquila, mais justa, mais feliz, mais humana. No prólogo do livro Pedagogia do Bom Senso, Freinet descreveu Mathieu como o camponêspoeta- filósofo, herói do livro Educação do Trabalho. O apreço pelo personagem, que revela a essência da pedagogia moderna, o fez criar uma coluna na revista L’Éducateur (O Educador) nomeada Les dits de Mathieu, como se pode observar na imagem 1. Elaborou crônicas a cada dois meses, equivalente ao período de tiragem da revista, e, tempos depois, decidiu juntá-las em um livro. A primeira publicação ocorreu em 1967, mas aqui foi consultada a 2ª edição da tradução brasileira dada ao público pela Martins Fontes em 1988. O leitor encontrará, em cada capítulo, primeiramente a crônica escolhida pelo professor, escrita por Freinet, em fonte Bell MT e, em seguida, na fonte Candara, as refrações das palavras freinetianas expressas nas reflexões dos autores. Decidimos enquadrar o gênero narrativo que Freinet produziu em Pedagogia do Bom Senso como crônica, devido a sua origem. Os escritos foram publicados em uma coluna de um periódico dedicada a um assunto específico, a vida cotidiana da escola e dos escolares, sempre banhadas de opiniões críticas ou mesmo polêmicas para a época. Entretanto, o texto apresentado também poderia ser considerado uma parábola. Freinet utilizou-se de narrativas alegóricas, sempre ligadas ao mundo natural e rural, por meio de comparação ou analogia, para transmitir uma mensagem indireta. É sabido por todos os freinetianos a importância que a natureza e o meio rural têm na trajetória do pedagogo. Ele nasceu numa aldeia, Gars, no sul da França. Viveu toda sua infância envolvido por brincadeiras e por trabalhos que o campo possibilitava e exigia. A cultura do meio rural foi parte integrante do professor autodidata e erudito leitor. Em seus escritos ele se mostrava; estavam ali sua vida pessoal e profissional e, assim, as metáforas do campo foram usadas em suas explicações pedagógicas. Ele recorria às experiências da vida, principalmente aquelas vivenciadas por ele, para estabelecer analogias entre o desenvolvimento dos seres da natureza e o desenvolvimento da aprendizagem pelas crianças, por exemplo, a comparação entre o voo do bando de pardais, com a correria das crianças quando o sinal sonoro indica o término da aula; a analogia do cavalo que não está com sede, para ressaltar a falta de motivação das crianças para fazer exercícios desvinculados da vida. E tantas outras que deixaremos para que você, leitor, descubra. Adriana Pastorello Buim Arena Valéria Aparecida Dias Lacerda de Resende
Request Code : ZLIBIO3756235
Categories:
Year:
2023
Publisher:
Pedro & João Editores
Language:
Portuguese
Pages:
156
ISBN 13:
9786526502891
ISBN:
9786526502884,9786526502891

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